terça-feira, outubro 20, 2009

Visão Superficial do Cinema Nacional Contemporâneo


Por: Maurício O. Freire

Há anos o cinema nacional deixou de ser aquele que costumava ser até a década de 1980: produções criativas, porém pouco caprichadas no que diz respeito à qualidade dos roteiros e habilidade e capacidade dos atores.



É indiscutível, também, o fato de a “era” das Pornochanchadas ter sujado a imagem das produções nacionais, que passaram a ser mal-vistas tanto aqui como lá fora, com atrizes e atores medianos (muitos bons que, felizmente, conseguiram sair desse ramos, passando a atuar em produções mais “decentes” e alcançando, até mesmo, o estrelato). Até hoje, para muitos, filmes nacionais são sinônimo de “pornografia” e muito palavrão. Não tiro totalmente a razão desses até porque, ainda hoje, temos visto um apelo grande em torno do erotismo e muitos diálogos vexatórios – e até mesmo constrangedores, dependendo do ambiente em que nos encontramos – que acabam, muitas vezes, por tirar o mérito de produções com qualidade suficiente para se destacar sem recorrer à apelação.

Mas há de se levar em consideração o fato de que muitos filmes nacionais trazem muito mais do que mero entretenimento ao expectador. Há uma infinidade deles, repleta de conteúdo, que nos fazem, ates de mais nada, refletir sobre o cotidiano do povo brasileiro, em suas diferentes culturas, espalhados por diferentes regiões do país. Hábitos e curiosidades que são ignorados por aqueles que vivem alheios ao que existe a sua volta. Há um mundo vasto ao nosso redor, povoado por pessoas de diferentes raças, diferentes comportamentos e gostos. E é justamente isso o que o cinema nacional – me refiro aqui aos filmes de qualidade – muitas vezes procura mostrar.
Eu, como um bom fã de filmes brasileiros que sou e, também, como grande observador que me considero, venho sempre buscando aumentar mais a minha lista de filmes assistidos, sempre atento a novas produções. E posso afirmar que tenho visto um festival grandioso, onde o principal tema é o ser humano em sua essência: seu vício, sua fraqueza, sua cobiça, seu egoísmo, sua compaixão e sua insensibilidade.

E não é suavizando situações dramáticas ou escondendo cenas tórridas que a natureza humana nos pode ser apresentada. É preciso um certo grau de realismo, o que exige maturidade do expectador – que deve ter a mente aberta para novas experiências e interesse em não apenas buscar entretenimento, mas manter os olhos abertos para a realidade que, muitas vezes, pode estar inserida em uma história de ficção.

Há muitos exemplos bons do que eu acabei de dizer, e que poderiam ser recomendados por mim, mas vou citar apenas alguns que considero ideal para aqueles interessados em enxergar o cinema nacional com outros olhos, e ver que ele também pode ser sinônimo de cinema de qualidade, não só pelos bons roteiros e atuações primorosas, mas pela visão realista que ele nos traz de nos mesmo (nós como brasileiros e, principalmente, como seres humanos).

– Dois Perdidos Numa Noite Suja (Filme de 2003, filmado em Nova York, porém com atores brasileiros e produção nacional).






















O filme, com direção de José Joffily, conta a história de Rita (Débora Falabela) que caracterizada como homem e adotando o nome de Paco, passa a se virar na grande metrópole procurando clientes homossexuais e oferecendo programas rápidos por alguns trocados. Tem um sonho de se tornar famosa e, é após encontrar Tonho (Roberto Bomtempo), um homem mais velho, porém em situação talvez pior que a sua, que ela passa a se questionar se essa é realmente a vida que quer, e se tudo isso realmente vale a pena. Porém fica a pergunta: qual a melhor opção para quem não tem muitas opções?

– Casa de Areia (Filme de 2005 com Fernanda Monte Negro, Fernanda Torres, Stênio Garcia e Seu Jorge e direção de Andrucha Waddington).






















Após serem levadas por seu marido a um local deserto do sertão nordestino para viver, Áurea (Fernanda Torres) e sua mãe, Dona Maria (Fernanda Monte Negro), se vêem presas, sem auxílio e sem perspectiva nenhuma de vida; mais ainda após o marido de Áurea, que está grávida, morrer e as duas terem de se virar para não passarem fome enquanto torcem para não terem seu único refúgio tomado pela areia do deserto.

– A Casa de Alice (Filme de 2007 com direção de Chico Teixeira).






















Alice (Carla Ribas) é uma mãe de família que mora na periferia da cidade de São Paulo. Trabalha como manicure e procura levar a vida do melhor jeito possível, lidando com um casamento fracassado, fechando os olhos para as traições do marido e não deixando de lados seus próprios desejos e necessidades. Tem em sua mãe a ajuda indispensável para cuidar da casa e dos filhos problemáticos enquanto está fora.

– Anjos do Sol (Filme de 2006, com Antônio Calloni, Chico Diaz, Otávio Augusto, Vera Holtz e direção de Rudi Lagemann).






















O Filme brasileiro mais triste que eu vi até agora. Conta o drama real de meninas que são vendidas para serem escravas sexuais em regiões isoladas do nordeste brasileiro. E mostra com que frieza e crueldade o homem é capaz de usar a inocência e fragilidade de outro ser para satisfazer as suas próprias vontades.


A lista é grande. Para continuar eu teria que dividir o Post em duas partes. Por isso, cito apenas alguns outros, sem entrar em maiores detalhes:

– O Cheiro do Ralo
– Amarelo Manga
– Baixio das Bestas
– Estômago
– Otávio e as Letras
– Saneamento Básico, o Filme
– Nina
– Querô
– Carandiru
– Cidade de Deus
– Ultima Parada 174

Aguardo comentários e também sugestões. O canal está aberto para aqueles que queiram expor suas opiniões. Até a próxima.

2 comentários:

  1. Para "uma visão superficial", até que seu post tá bem profundo!

    Bem interessante o que vc colocou. Eu sou um desses que não ta acostumado com filmes brasileiros. Antes, eu não gostava e os achava ruim.
    Agora, porém, acho que os filmes são bons sim, eu é que não estou preparado para assistí-los. Confesso, é um estilo que não entendo.

    Desses aí, assisti Casa de Alice e adorei! Um excelente filme. Tenso, mas não tem cenas realmente pesadas. Muito bom.

    Dos outros que vc citou, Otávio e as Letras acaba sendo um filme bem diferente. Não o considero realista, porém ele tem um conceito ótimo!

    Cidade de Deus é outro excelente filme, que começou essa moda de "filme realista que mostra a pobreza"!

    Parabéns pelo post.

    ResponderExcluir
  2. Eu acho que não é preciso "um certo grau de realismo" para mostrar o "ser humano em sua essência", existem outras maneiras.
    Eu acho também que os brasileiros não estão acostumados com filmes sérios de mais, só ver cinema em casa e seção da tarde, isso não é uma critica negativa ao cinema brasileiro, mas acho que deveria pegar mais leve,
    Porém eu gostei do seu poust, eu gosto desse tipo de filme, foram todos para minha lista.

    PS:Mude o título para "Visão Geral do Cinema Brasileiro Atual", soa melhor;)

    ResponderExcluir

Blog Widget by LinkWithin